Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Obama: centrismo em casa, recolhimento no exterior

O discurso sobre o estado da União parece definir os termos nos quais provavelmente se desenrolará a campanha presidencial em 2012

Por La Vanguardia
27 jan 2011, 17h27

O novo Barack Obama, o presidente que governará os Estados Unidos até as eleições de novembro de 2012 sem maioria no Congresso, é mais centrista e patriótico, menos progressista e polarizador. Menos audaz em suas propostas, mais sedutor ante o cidadão médio que decide nas urnas. Mais parecido ao treinador que galvaniza o time para ganhar a partida do que com o professor severo e distanciado. Mais atento aos problemas de seu país e menos interessado em transformar o mundo. Com a mente posta em assegurar-se de que o século 21 volte a ser americano, mas também em obter um segundo mandato na Casa Branca.

Este é o retrato que emerge de Obama depois de seu segundo discurso sobre o estado da União. Consciente de que, sem maioria democrata no Congresso, a margem para governar é estreita, optou por apresentar uma visão de como os Estados Unidos podem preservar a liderança global diante de potências emergentes como a China. Superada a pior recessão das últimas décadas e com o país dividido, a prioridade agora é criar emprego e melhorar a competitividade para que a superpotência “conquiste o futuro”, para usar uma frase usada pelo presidente várias vezes na noite de terça-feira.

Do discurso sobre o estado da União, um ritual que concede ao presidente um púlpito para definir a agenda política do país, emerge também um retrato de luzes e sombras do Partido Republicano. Sim, revigorado pela vitória nas eleições legislativas de novembro, que supôs uma desautorização ao programa reformista de Obama. Mas também dividido. Na terça-feira, a facção Tea Party, movimento populista que impulsionou os republicanos durante os primeiros dois anos de Obama, encenou uma pequena rebelião. A congressista de Minnesota Michele Bachmann, líder do Tea Party na Câmara, ofereceu uma réplica ao discurso de Obama, que competiu com a réplica oficial do Partido Republicano, a cargo do congressista do Wisconsin Paul Ryan, estrela emergente da oposição.

Apenas assuntos internos – Os discursos sobre o estado da União raramente mudam a dinâmica política, mas refletem um momento, e, de acordo com a audiência no Capitólio, este é um momento de retirada para os Estados Unidos. A política externa teve um papel menor: apenas 10% do texto lido por Obama. É habitual, mas, como assinalava ontem o ensaísta Robert Kagan, do Brookings Institution, Obama nem sequer se incomodou em explicar aos americanos por que esses temas lhes dizem respeito. “As partes básicas tratavam de lugar que estamos deixando”, disse Kagan. Do Iraque e do Afeganistão.

No discurso houve apenas uma linha dedicada à Europa, e nenhuma menção ao processo de paz do Oriente Médio, uma das iniciativas fracassadas da administração Obama. Mais grave, segundo Kagan, é que não houve nenhuma menção aos protestos no Egito. “No mesmo dia em que aconteceram”, lamentou. “Uma tremenda oportunidade perdida”, segundo o especialista, que destacou que na realidade política exterior tingiu toda a mensagem: política exterior, no entanto, em termos de concorrência com o resto do mundo, de convocações para superar o resto – sobretudo a China – e tecnologia, infraestrutura, educação…

Continua após a publicidade

Povo especial – O novo Obama incorpora um renovado excepcionalismo americano: a crença de que o país tem algo especial que o distingue dos demais, uma missão universal particular (a versão americana do que em outras latitudes se chamaria nacionalismo). Em Tucson, onde há duas semanas falou depois da tentativa de assassinato da congressista Gabrielle Giffords, o presidente tocou a fibra nacional ressaltando o heroísmo do americano comum, capaz de tirar o melhor de si em situações limite como um tiroteio. O discurso de terça-feira também esteve salpicado de referências à grandeza dos Estados Unidos. “Apesar de todos os golpes que recebemos nesses últimos anos, apesar dos agourentos que vaticinam nossa decadência, a América segue sendo a maior e mais próspera economia do mundo.”

A tentativa de recuperar o excepcionalismo americano não é um dado menor. Apesar de nada ser tão americano como a biografia e a figura de Obama, o primeiro negro na Casa Branca, as suspeitas sobre seu patriotismo e as teorias conspiratórias sobre sua nacionalidade proliferaram em alguns setores da direita. Ao usar o tom otimista que lembra o republicano Ronald Reagan, o democrata Obama tenta recuperar o centro, de onde a oposição tentou expulsá-lo nos últimos anos. A ocupação do centro se evidencia também nos recados ao mundo empresarial: o pedido de reduções fiscais e de investimentos em educação, pesquisa e infraestrutura – eixos do discurso – são reclamações das grandes corporações.

A retórica do excepcionalismo, além disso, permite defender ante a direita anti-intervencionista a necessidade de uma intervenção do estado na economia em termos patrióticos: os investimentos são necessários para evitar que os Estados Unidos não fiquem atrás da China e para que continuem a ser hegemônicos. O discurso sobre o estado da União parece definir os termos nos quais provavelmente se desenrolará a campanha presidencial.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.